(Re) Vivendo - Segundo Capítulo por Gabriela Vilks

" A vida não espera por nada nem ninguém. Ela apenas é. E você, apenas segue. Segue tentando acompanhá-la achando um jeito que seja o menos pior. E acha. Fica a vida inteira fazendo planos, e não os cumpre, passa a vida inteira fingindo ser, e nunca é . Chega. Seja. Faça. Voe, voe pra longe, pra longe de si mesmo.. Vá contra a corrente, e se precisar morrer pra isso, MORRA também ... " 




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 Lábios pequenos e doces, pensou ele enquanto sentia cada centímetro de boca da moça . Que saudade. A leveza do beijo, foi suscinta, e por ambas as partes a sensação causada pelo encontro repentino dos lábios secos, foi totalmente fascinante. Quase como se um pequeno choque elétrico partisse da boca de ambos, e fosse até a base do pescoço , causando mais do que somente um bom arrepio e um frio de barriga .Causou uma estática paralisante no ar, e que com toda certeza, se alguém visse, chamaria aquela 'áurea' em cima dos dois corpos, de amor palpável.
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Mas que diabos ele está fazendo ? Se perguntou ela, quando percebeu que ele havia parado em baixo da luz amarela do estacionamento por algum motivo que ela desconhecia. Que engraçado e estranho, pensou ela . Não fazia ideia do que ele estava pensando e muito menos o por que estava a olhando como se cada centímetro de pele dela, fosse ouro reluzindo .
Quando ela percebeu os olhos brilhantes e já pouco inchados do rapaz a sua frente, foi que houve um estalo. Eles se pareciam. Mas .. que ... droga ! Pensou ela , já tentando se controlar, tentado não bambear as pernas e sair correndo dalí.
Como eu pude não reparar ? Se perguntou quase se insultando internamente. Estava prestes a fazer isso, quando se surpreendeu pelo sorrisos saudoso, tímido e luzente que o rapaz soltara ao apreciar a face da moça.
O queixo meio quadrado, a barba rala, os lábios retos, os olhos quase negros e hipnotizantes, o cabelo meio desgrenhado. Era como se houvessem descrito ele , novamente. Mas não era ele. Ela sabia disso. Era informação de mais, e a cabeça já fraca dela, depois de tanto cair e beber, já não conseguia mais aguentar certas situações, imagine essa, de encontrar um cara na balada, com os mesmos traços do amor de sua vida.
Era de mais para ela. Não sentia mais sua garganta, muito menos seu coração. Somente mexeu os lábios para o lado, como se dissesse, você está aqui de novo . No fundo ela sabia que era impossível, mas sua insanidade a fazia acreditar que era. E sendo assim, se fugir era o que ele queria, ela fugiria, mesmo sem conhecê-lo, sem saber para onde iriam. Como se esperava, nada funcionava direito e então, ficou quieta, mais do que já estava.
Achou engraçado e fofo quando ele abriu a porta do carro com as mãos trêmulas e tentou colocar o cinto de segurança nela.
E então como se já não bastasse o coração a mil e a cabeça a zero, o rapaz , chegou mais perto, permitindo a ela, sentir o perfume dele novamente, e fitá-lo mais fundo nos olhos. Sabia, pensou. Olhos escuros, mas que com toda certeza, ela reconhecera que eles também já choraram muito por alguma coisa. Foi quase como um reconhecimento a primeira vista. De alguma forma, ela sentiu que estava ligada ou quem sabe conectada com o rapaz bonito. De alguma forma, estranha, e agradável. Olhá-lo novamente, a fez se sentir viva, por alguns segundos. E quando ele , imprudentemente resolveu selar os lábios dela, foi como se a vida , tivesse voltado ao meu corpo, ela pensou.
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Bom, para nós , imortais, o amor tem uma definição diferente para cada pessoa. Para as poucas que perguntei , o que é o amor para você ? elas me surpreenderam com as respostas.
"O amor ? Ah, o amor é um calor que preenche o coração quando beijamos quem amamos, e é assim que percebemos que realmente amamos a pessoa. Ela nos aquece, nos permite sermos menos humanos uma vez, e sermos bons, e verdadeiros. O calor, o frio na barriga, o sorriso involuntário, ah, esses são os sinais de um verdadeiro amor."
" Nunca acreditei em amor pra falar a verdade. Tive sim, com quem compartilhar um pouco de minha breve e insoça história, mas , nunca senti o que dizem os apaixonados. Amor .. hum ... é um amontoado de sentimentos e sensações boas que são provocadas por nossa mente fraca, numa tentaiva pré histórica e animal de reprodução. Pode me chamar de idiota, que não me importo, mas se todos seguissem meu conselho de não amar e não deixar ser amado, nunca haveriam guerras, em todos os sentidos. "

Viu só ? Uma totalmente contrária a outra. Não é incrível ? Bom, eu achei. Nunca vivi um amor de cinema em que quando você se apaixona, se perde. Eu já sou perdida, e acho que isso não ajudou muito mas enfim ... Não sofro com isso. Se houver um dia amor, em minha vida, vou acolhê-lo com a maior alegria. Mas, o meu verdadeiro amor, de agora, você está lendo. São minhas palavras, minhas histórias, meus personagens. Esses que daqui a pouco, irão com certeza descobrir algo tão  intenso, próximo e distante ao mesmo tempo da pequena palavra , amor.
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Não pode ser destino, muito menos qualquer outra babaquice que fale sobre duas pessoas serem tão iguais, se encontrarem por acaso em uma boate ! pensou ele, desencostando infelizmente os lábios dos da moça, a fitando rapidamente e soltando um sorriso tão lindo e natural, fechando a porta e dando a volta no carro para chegar ao banco do motorista.
Uma sensação de ansiedade e aconchego tomavam conta do peito do rapaz, que tentava ao mesmo tempo parar de pensar na moça ao seu lado, e pensar em algum lugar para ir. Ao passar pela placa que dizia 'saída' no estacionamento, soube para onde devia ir.
Era sexta feira a noite, logo as ruas e avenidas estavam amarrotadas de pessoas e carros. O GPS de última geração que ostentava no painel, não se fez preciso, pois o caminho que ele fazia, já estava cravado em sua memória. Era lá, que ele ia, quando os dois brigavam. Era lá que ele se fazia entender o por que dela . Era o seu lugar. E era para lá que ele estava indo.
Enquanto esperava o sinal abrir, olhou de relance para a moça sentada ao seu lado. Ela envolvia suas pernas com seus braços em cima do banco, o que fez seu vestido já curto, mostrar um pouco mais das pernas esbeltas da moça. Já estava sem os sapatos de salto alto, isso significava que estava aconchegada. Ela fitava cuidadosa e serenamente o outro lado da rua, onde passavam pessoas em suas roupas de festas, felizes, rindo, achando a vida uma beleza.
Não demorou muito para conseguir sair do perímetro urbano e chegar a parte mais natural perto da cidade. Em alguma altura da rodovia, ele virou a esquerda e caiu em uma estrada de terra que parecia não ser usada constantemente. Nenhum dos dois soltara uma palavra durante o trajeto, e isso somente acalmou os nervos saudosos de cada um. Dentro de alguns minutos já estavam passando por entre as árvores em uma estrada um pouco íngreme. Ele parou o carro.

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Quando foi mesmo a última vez que me senti tão bem comigo mesma ? se perguntou ela, enquanto o carro passava pelas ruas e pessoas. Fora há muito tempo. Muito tempo. Esse tipo de coisa, de destino e de encontrar a alma gêmea não existe , pensou ela. Embora um dia, ela acreditasse nisso.
Parecia que alí, dentro do carro, ao lado dele, a vida tinha outro cheiro. Quem sabe um cheiro estranhamente doce e suave de saudade, e algum resquício de amor, que ela e nem ele se lembravam. Isso o fez a sorrir. Não vou começar a me sentir uma escritora sentimentalista agora, vou ? Era assim que ela se sentia quando ele estava por perto, quando ele a fazia rir de coisas bobas.
Ela respirou fundo e se perguntou, Por que ? Por que hoje ? Por que eu ? Por que você ? Por que , por que ? Ela odiava quando não sabia as respostas, mas algo lhe dizia que elas estavam tão próximas quanto a presença dele. O carro parou de repente, a fazendo olhar para o rapaz que já a fitava com um breve sorriso no rosto.
- É rápido. Vamos a pé. - ele acenou  levemente com a cabeça para a trilha.
Foi o que ele disse. E bastou. Bastou escutar em míseras cinco palavras a voz dele para ela. Novamente, o coração queria sair do peito dela. Um sorriso surgiu na face dela. Ela se desprendeu do cinto, segurou seus saltos e foi dando os primeiros passos na trilha iluminada pelo brilho das estrelas e da lua, que estava minguante na noite escura.
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Vai ficar frio. Pensou ele , abrindo o porta malas e pegando uma manta velha mas limpa, que sempre deixara ali, somente para usá-la quando vinha alí.
Ele deu três passos longos e alcançou a moça que segurava os saltos em uma mão, e com a outra , envolvia sua cintura. Ele pegou a manta e a cobriu nos ombros, recebendo em troca, um sorriso tímido e um olhar iluminado pela luz dos astros.
- Sempre vim aqui, quando eu queria me distrair um pouco ou pensar na vida. É bonito, eu acho bonito.
A trilha começara a descer, e um barulho de água corrente preencheu o ar em instantes, a fazendo sorrir consigo mesma.
O silêncio se fez entre os dois, até chegarem à um pier.
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Obrigada, pensou em dizer ela pela manta, mas não conseguiu. Somente retribuiu com um sorriso, e que parecia ser a única coisa que conseguia fazer desde que se tocaram. Que bobagem, pensou.
Ela riu mais uma vez, ao ver que o modo como o rapaz falou sobre o lugar, ,o lembrava.
Mais alguns passos e vualá, um dos rios mais bonitos, limpo e menos conhecido da cidade e acho até que da região, pensou ela. Já vira matérias, e até fizera um projeto sobre alguns rios da região no trabalho. De perto, com toda certeza, e ainda iluminado pela luz das estrelas, era sim o mais bonito, se não o mais estasiador.  Fazia tempo que não tinha contato com a natureza. Fazia tempo que não tinha contato com nada nem ninguém.  O pier, de madeira, dava a impressão de ser antigo, mas bem conservado. Ao horizonte do grande rio, se via os elevados picos das montanhas e suas florestas se entendendo até onde a vista permitia. Tudo tinha cor cinza e preto.  Desceram algumas escadas e chegaram ao fim do pier. Ela esticou a manta do chão, e os dois se sentaram.  Alguns minutos a mais somente com o barulho de água, vento, folhas e galhos se batendo.
Tudo parecia tão bem, tão normal. A vida por alguns instantes parecia tão normal. Como se nada tivesse acontecido, como se o ar, fosse o mesmo daquele tempo em que as coisas eram mais fáceis, como se fosse o ar de liberdade e tranquilidade antes do amor. Antes dele. Naquele tempo eu era feliz, mas de outra forma, pensou ela fitando as montanhas.


 -  Tem razão, eu também acho bonito - disse ela.

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