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14/09/2011 – Quarta-Feira | Los Angeles International
Airport
Naquele dia eu não fazia a mínima ideia do que iria me acontecer de agora
em diante, nem mesmo o quem faria tanta coisa mudar na minha vida quando
chegasse em Biddeford. O aeroporto não estava lotado, pelo o que eu me lembre.
O nosso voou havia acabado de chegar quando a minha mãe terminara de tomar o
seu amado café. Bem, a senhorita Carlyle tenha me adotado desde quando eu tinha
apenas cinco anos. Ela não era a minha mãe verdadeira, mas cuidou de mim com
todo o carinho que não pôde dar ao filho já morto, Jacob.
– Ansiosa para conhecer a nova cidade, Bárbara? – Ela me
perguntou assim que havíamos nos sentado em nossos lugares no avião. – Ouvi
dizer que lá tem uma boa universidade.
– Tenho medo de não me adaptar. Sabe como é?! Adolescentes...
– Com isso você não precisa se preocupar. Ouvi dizer que os habitantes do
Maine são simpáticos.
– Assim espero.
Era a primeira vez que estaria num avião, e a experiência foi
desagradável, devo confessar. Se balançasse um pouquinho eu já estava em
pânico, e a Srta. Carlyle ria de mim. O nome verdadeiro dela era Morgana
Carlyle, mas acho que por ter sido bem educada, passei a chama-la pelo
sobrenome de vez em quando. Ela não se importava, pois sabia que mesmo eu não a
chamando de mãe frequentemente, eu a considerava a minha verdadeira e única
mãe, nunca nenhuma outra mulher iria substituí-la.
A sensação de finalmente estar em terra era maravilhosa. Estávamos em
York, e pegaríamos um ônibus para poder finalmente estar em Biddeford. Como
seria lá? Eu iria gostar de lá? Eram perguntas que ficavam martelando em minha
mente naquele dia. Eu sentia que algo novo iria acontecer, que alguma coisa
diferente me aguardava. Não sabia se era boa ou ruim, mas sabia que algo novo
estava vindo e eu estava ansiosa para poder explorar o lugar e saber da
história da pequena cidade do Maine. Mamãe certamente sabia um pouco sobre
Biddeford, já esteve lá quando tinha a minha idade e garanti ser bem calma e
misteriosa. Do jeito que eu gostava.
– Havia uma casa no qual todos diziam ser mal assombrada. Era velha e
parecia estar abandonada. – Ela começava a contar sobre a sua estádia na
cidade.
– E realmente estava? – Perguntei.
– Sim, ela estava. Mas um dia uma família se mudou para lá, e eu achava
aquela família bem estranha. Sabe... Lobos nunca foram vistos frequentemente no
Maine.
– Acha que eles podem ter levado lobos com eles? – Eu estava ficando mais
curiosa.
– Pensávamos que era uma coisa boba de eles serem lobisomens. Mas alguns
dias depois descobrimos que era apenas o cachorro do psicólogo que uivava e que
parecia com um lobo.
– A senhora acredita que seres sobrenaturais existam? – Ela me olhou e
depois encarou suas mãos.
– Sabe minha filha... Este mundo é estranho. Nunca saberemos a verdade
sobre nosso mundo, e se um dia descobrirmos... Nós mesmo iremos destruir um ser
tão fantástico, é assim que nós somos, Bárbara. – Ela tinha a absoluta razão.
Se o homem descobrisse que fadas existissem, iriam estuda-las e certamente
fazer algo de errado e acabar destruindo-as.
– Seria legal um dia encontrar algo sobrenatural! – Pensei alto.
– Por enquanto é só em sonhos, minha pequena... Só em sonhos!
O que nós não sabíamos, era que o nossos futuro estava cheio de criaturas
e objetos sobrenaturais. Se um dia me dissessem que eu iria ver pessoas voando,
fazer mágica e lutar contra criaturas místicas eu já teria mandado colocarem a
pessoa num hospício por ser um doido varrido. Enquanto a viagem de York até a
tão esperada Biddeford acontecia, eu lia um livro que havia ganhado de
aniversário de Morgana. A última música era um excelente livro, embora eu
prefira ler suspense e mistério.
Lembro-me de nem ter me tocado que o tempo havia passado tão rápido, e
logo fui cutucada por Srta. Carlyle me dizendo que havíamos chegado em
Biddeford. Tão calma e tão misteriosa, do jeito que mamãe me contou. Era
estranho chama-la de três formas diferentes. Mas chamando-a de qualquer uma
dessas formas, eu saberia que estava falando da pessoa mais simpática do mundo.
A mulher que me adotou e cuidou de mim, mesmo eu tendo dado muito trabalho
quando mais nova. Ainda não acredito que ela me aguentou durante todos esses
anos.
– Não é bem do jeito que você está acostumada, mas sei que irá gostar. –
Ela disse assim que desci do ônibus e observei a rua em que estávamos.
– Contando que eu esteja com você, está perfeito! – Sorri e a abracei.
A casa em que iríamos morar não era nem grande nem pequena. Era uma casa
no qual cabia apenas nós duas. Dois quartos, um banheiro, uma cozinha, uma sala
de jantar, uma sala de estar, uma lavanderia e uma varanda de frente para a
pequena lanchonete no qual algumas pessoas saíam e entravam como se fosse um
dia comum, e era um dia comum para elas, menos para mim que teria o meu
primeiro contato com a magia. As pessoas que passavam em frente à casa acenavam
e davam um pequeno sorriso para nós, e eu acreditava que elas estavam sendo
gentis, mas apenas estavam tentando parecer pessoas normais, coisa que elas não
eram desde o dia em que um grupo de estranhos destruiu a cidade e a colonizou
com criaturas sobrenaturais. Mas isso foi há muito, há muito tempo.
– Mãe, quando começará as minhas aulas?
– Apenas semana que vem, e terá que pegar o conteúdo com algum aluno já
que está um pouco atrasada. – Ela falava sem me encarar, apenas guardando suas
roupas no armário.
– Posso ir na lanchonete aqui em frente? Quem sabe eu não faça amizade
com alguém?
– É, pode ser uma boa ideia! – Ela sorriu.
– Quer que eu traga alguma coisa? Aproveitando que estarei lá? – Disse
antes de sair.
– Traga uma torta de frango, caso tiver. Quando era mais nova, a torta de
frango dessa lanchonete era a melhor da cidade. – Sorri, mostrando que gostava
de quando ela falava da cidade do tempo em que ela era mais nova. – Vamos ver
se ainda é!
Morgana Carlyle era uma mulher de quarenta e dois anos. Sempre sonhou em
ter filhos, e quando conseguiu duas tragédias aconteceram em sua vida. Seu
amado marido e seu primeiro e único filho haviam morrido num acidente de carro,
tendo ela como a única sobrevivente. Se não fosse por uma garota chamada
Bárbara, ela não teria sobrevivido. É isso aí! Eu, com apenas cinco anos de
idade salvei a vida de uma pessoa. Lembro-me de estar andando pelas ruas, como
sempre fazia e vi o carro capotado na estrada. Eu pedi ajuda à um homem que
passava pelo local, e para a minha sorte, ele era bombeiro. Ele estava
distraído, e se não fosse por mim, não teria visto o carro capotado na rua
próxima a que ele estava. Grata por eu tê-la salvado, Srta. Carlyle me adotou e
registrou meu nome como Bárbara Victória Carlyle.
Entrei na lanchonete e sentei-me numa das cadeiras próxima ao balcão. Uma
senhora me deu o cardápio e percebeu que eu era nova na cidade, pois afirmou
que toda Biddeford vinha comer em sua lanchonete. A cidade realmente era
pequena, mas não tão pequena. Os habitantes se conheciam por um único motivo:
tinham uma ligação com o sobrenatural, uma energia mágica. Tanto negativa
quanto positiva. Aquele dia na lanchonete mudou completamente a minha vida. O
que estou falando? Tudo o que me aconteceu naquela cidade mudou a minha vida!
Mas foi na lanchonete que eu conheci ele. O garoto dos olhos
verdes.
– Nova na cidade? – Ele havia me dirigido a palavra pela primeira vez.
– Está tão óbvio assim? – Perguntei a mim mesma, o fazendo rir.
– Já deve saber que todos aqui dessa cidade se conhecem, certo? – Neguei
com a cabeça.
– Quem é você? – Perguntei um pouco desconfiada.
– Ah, eu deveria ter me apresentado adequadamente. Eu
sou Harry, Harry Styles.
E foi com aquele
sorriso perfeito e olhos verdes brilhantes que ele conseguiu acabar com a minha
vida. Conseguiu me fazer sofrer e viver coisas no qual ser humano nenhum
sonharia viver. Lembro-me de cumprimenta-lo e retribuir o seu sorriso. E ao
tocar a sua mãe, senti algo estranho percorrer por minha mão até a minha
cabeça. Onde senti uma forte dor e imagens, imagens que seriam muito
importantes no meu futuro.
– Leve-a para longe, Jack! – Dizia uma mulher de cabelos
castanhos claros e pele branca,
– Não vou sem você, mamãe! – O garoto recusava a deixar a sua mãe
que tentava a todo custo proteger as duas crianças, no qual naquela época eu
não fazia a mínima ideia de quem fossem.
– Você tem que ir! – Ela gritava, pegando uma adaga e dando ao
filho.
– Mas e você? – Ele chorava, fazendo a mulher chorar também. – Eu
vou ter que pagar por ser o monstro que sou. Uma bruxa! Salva a si mesmo e a
sua irmã!
– Mas mãe...
– Vá, Jack! Não tenha o mesmo destino que eu.
Um dia tão novo para mim acabou se tornando um dia cheio de dúvidas em
minha cabeça. Aquela cidade certamente não faria bem a mim, e não fez. Muita
coisa ainda seria revelada para mim. Muita coisa ainda iria acontecer desde
aquele momento em diante. Ás vezes eu me lembro daquela época e digo para mim
mesma que queria que meu sorriso verdadeiro voltasse, mas ele apenas voltará
quando quem eu menos querer por perto já estiver próximo o bastante para
terminar o que começou. Destruir a minha vida aos poucos.
– Sou Bárbara, Bárbara Carlyle. – O respondi com um sorriso.
– Veio de onde Bárbara? – Ele me perguntou ainda com aquele sorriso no
rosto.
– Vim de Los Angeles. Mas a minha mãe disse que queria que eu conhecesse
a cidade em que ela morou por um certo tempo e cá estou. E você? É daqui mesmo?
– Nasci e cresci aqui. – Ele me respondeu, ainda sorrindo. – Não me
lembro da última vez em que tivemos estrangeiros por aqui. Geralmente eles vem
e vão embora depois de pouco tempo.
– Talvez por ser uma cidade simples e pequena, bem diferente de Nova York
ou Boston.
– Ou talvez por outra coisa... – Ele sussurrou para si mesmo.
– Então mocinha?! Já decidiu o que vai querer? – A senhora me perguntou.
– Quero chocolate quente com canela e dois pedaços de torta de frango. –
Respondi.
– Chocolate quente com canela? Parece o Jared. – Harry novamente disse
para si.
– Quem é Jared? – Ele me encarou e deu um meio sorriso.
– O filho adotivo da prefeita. Ele gosta de chocolate quente com canela.
– Respondeu. Harry sentou na cadeira ao lado da minha e reparei que a senhora
que me atendeu o olhava estranhamente. Será que ele já aprontou por aqui?
– Você tem quantos anos, Harry? – Ele pediu um café virou-se para mim.
– Tenho dezessete e você?
– Quinze, farei dezesseis daqui alguns meses. – Ele sorriu. – Você não
parece ter dezessete.
– E quantos anos você achava que eu tenho? – Ele batucava no balcão
enquanto me encarava, parecia nervoso, na verdade, ele estava nervoso. Eu só
não sabia o motivo, mas agora eu sei.
– Dezenove... Vinte. – Dei de ombros.
– Curti caras mais velhos? – Harry fez uma careta estranhas e eu ri.
– Não tão velhos, se isso pode responder a sua pergunta. – Uma garçonete
entregou meu chocolate quente e os dois pedaços de torta para mim. Sorri e a
chamei quando ela estava indo embora. – Poderia embalar esse aqui para a
viagem?
– Tudo bem! E o seu já está vindo, o café ainda está sendo feito! – Ela
disse à Harry.
– Essa é a neta da dona da lanchonete. – Harry me disse. – Acho melhor
você ir conhecendo as pessoas daqui da cidade, isto é, caso queira ficar aqui
por um tempo.
– E a vó dela aceita ela usar aquelas roupas? – Disse apontando para a
minúscula saia que a garota usava. Harry riu e assentiu. – Tudo bem, né?!
– Se quiser, posso te apresentar meus amigos. – Assenti tomando um cole
do chocolate.
– Você parece ser o tipo de garoto que não tem amigos. – Ele gargalhou.
– Muitas pessoas dizem isso para mim, acredite. – Seu café chegou e ele
sorriu para a garçonete que simplesmente ignorou e voltou para a cozinha. – As
pessoas não vão muito com a minha cara. – Explicou. – Acho que percebeu.
– Sim, eu percebi.
Conversamos mais um pouco e ele me falou um pouco sobre cada pessoa que
estava naquele lugar. Realmente, todos se conheciam muito bem por aqui. Harry
falava enquanto eu apenas o observava. Pele branca, bochechas rosadas por conta
do frio, olhos verdes, lábios finos, cabelos castanhos e cacheados. Ao sorrir,
aparecia lindas covinhas no qual me dava uma vontade de apertar as suas
bochechas. Harry parecia ser um cara legal. Se não fosse pelos olhares
estranhos que as pessoas jogavam para ele eu teria a absoluta certeza de que
Harry Styles era um garoto cem por cento confiável. Um casal entrou no
estabelecimento, e no mesmo instante, a expressão de Harry mudou de alegre e
divertido para sombrio e misterioso.
– Harry, você está bem? – Perguntei.
– Sim, eu estou. – Ele respondeu. – Desculpe mas eu tenho que ir.
Eu sabia que algo de estranho estava acontecendo, mas mesmo assim me
atrevi a continuar me aproximando do perigo, do sofrimento. Terminei de tomar o
chocolate quente e comer a torta e voltei para casa. Mamãe guardava as minhas
coisas, e eu disse para ela que eu arrumava o resto. Entreguei a torta para ela
e guardei o resto de minhas coisas no guarda-roupa, armários e meus livros numa
estante que havia no quarto. Antes de tudo acontecer, o quarto era tão vivo e
alegre. Agora olho para essas paredes acabadas e só me restam lembranças,
lembranças de um ano completamente terrível para mim. Até quando essas
lembranças irão me assombrar e me fazer ficar noites em claro chorando por um
romance que nunca daria certo?
– Conheceu alguém? – Perguntou Srta. Carlyle.
– Sim, eu conheci um garoto. – Disse ao chegar na cozinha e abrir a
geladeira.
– Era ao menos bonito? – Ri. Morgana nunca mudava, sempre dizendo que eu
precisava arrumar um namorado e viver um amor verdadeiro como nos contos de
fadas.
– Olha, devo admitir que era. – Respondi tomando um gole d’água.
– Qual era o nome dele? – Ela começara a se interessar pela história.
– Harry. – Respondi. – Ele me falou um pouco sobre as pessoas da cidade,
e elas realmente se conhecem muito bem. – Srta. Carlyle assentiu. – Mas o
estranho é que as pessoas o olham...
– O olham? – Ela me incentivou a continuar.
– Estranho. – Prossegui. – Parece que ele fez algo de terrível e as
pessoas não o perdoam.
– Os bad boys são sempre atraentes, minha filha. – Novamente ri. – O que
acha de irmos visitar as docas? Quem sabe você não se interessa em passear de
barco ou até mesmo fazer mais amizades? – Ela me perguntou e eu assenti.
Guardei a garrafa d’água de volta na geladeira e coloquei meu celular no bolso
de minha calça. Morgana me entregou um casaco e eu imediatamente vesti, estava
fazendo muito frio lá fora.
– A senhora poderia me contar um pouco mais sobre quando estava
aqui?
– Claro! – Ela respondeu. – O que gostaria de saber?
– Qual foi o motivo de você ter ido morar em Los Angeles novamente?
– Esta cidade não era para mim, Bárbara. Não parecia, mas eu sabia
que não era bem vinda aqui e que algo estranho acontecia nesta cidade. Senti
medo em contar para os meus pais que achava Biddeford sobrenatural e me
achassem louca. Mas depois de um tempo, meu pai conseguiu um emprego melhor em
Los Angeles, então voltamos para lá e eu disse para mim mesma que nunca mais
voltaria para cá... Até agora.
Coisas estranhas realmente aconteciam naquela cidade, mas eu
só comecei a descobrir isso na noite seguinte. As docas era um lugar legal, em
minha opinião. Eu via pessoas pescando em seus barcos ou até mesmo passeando.
Srta. Carlyle gostava de ficar lá e passear, apenas olhando o movimento das
pessoas. Não era o lugar mais divertido do mundo, mas eu gostava. Ela havia
alugado um barco para domingo, disse que colocaria suas habilidades de pesca em
prática. Perguntou-me se eu queria ir, mas eu neguei e disse que teria que ir
na escola para poder pegar os horários antes mesmo das aulas começarem. Não
gosto de chegar tarde na sala, por isso acho melhor ir logo um dia antes das
aulas começarem.
Seria maravilhoso dizer que conheci alguém nas docas, mas eu não
conheci. A noite logo chegara e me preparava para dormir. A fraca luz do
abajur era o único meio que me fazia enxergar as letras do livro. Não estava
com sono e certamente não ficaria com sono muito cedo. O fuso horário daqui era
completamente diferente de Los Angeles. Ouvi um barulho vindo do lado de fora,
e achei estranho. Marquei a página do livro e o coloquei em cima da
escrivaninha. Coloquei um casaco e saí de casa, a procura do que quer fosse.
Ouvi barulhos de patas, e achei que poderia ser um cachorro ou um gato.
Mas não era. Quando virei-me para entrar em casa de novo, lá estava ele. Me
encarando com aqueles olhos claros e sinistro. Não senti medo e nem gritei,
estava completamente encantada com a tamanha beleza do lobo a
minha frente. Mas... no Maine não havia lobos, como ele estaria ali? Me
encarando sem fazer absolutamente nada?
Senti minhas pernas ficarem fracas, e então eu caí, ficando sentada no
chão e ainda encarando aquele ser. Se dissesse para alguém que estava frente a
frente com um lobo, ninguém acreditaria em mim. O lobo aproximou-se de mim
devagar e colocou a cabeça em minhas pernas, deitando-se logo em seguida.
Engoli em seco e fechei os olhos, tomando coragem para poder acariciar a cabeça
do animal. Eu estaria ficando louca? A resposta é não! Pois meu contato com os
lobos só estaria começando. O mesmo tremor que senti quando toquei Harry passou
pela minha mão novamente, e uma série de imagens se passavam e minha
mente.
–
Ela não pode ficar aqui, Jack. Se descobrirem o que ela é irão matá-la. – A
mesma mulher dizia para o garoto de aproximadamente treze anos.
– E o que a senhora vai fazer? – Ele perguntou.
– A única maneira de Bárbara sobreviver é eu me sacrificar por ela. Em
Los Angeles ela não estará segura, não enquanto as pessoas acharem que somos
monstros. – A mulher chorava enquanto segurava o pequeno bebê.
– A senhora não pode se entregar! – O garoto disse. – Não vou conseguir
sobreviver sem a senhora, mamãe!
– Mas é o melhor para você e para a sua irmã. Um dia, quando ela estiver
na idade certa, ela descobrirá o que realmente é. E você terá que guia-la para
que nada de ruim aconteça com ela, Jack!
– E o que eu tenho que fazer? – Ele perguntou tomando o bebê em seu colo
e encarando a mãe que ainda chorava.
– Irá para a cidade em que tudo começou. Biddeford!
Olhando nos olhos azuis do lobo, eu soube que a minha vida seria uma
loucura dali pra frente. Aquilo era uma lembrança? Quem era a minha verdadeira
mãe? Do que ela tinha tanto medo? O QUE ela era? Eram tantas perguntas que
começavam a se fazer em minha mente. Tantas perguntas sem as suas definitivas
resposta. Quem sou eu? E por qual motivo eu tinha que ir para aquela cidade? E
foi então que eu percebi. Para ter as respostas que tanto queria, eu finalmente
teria que descobrir o meu passado, querendo ou não isso já fazia parte do meu
destino.